segunda-feira, 21 de abril de 2014

Neodeclaração de amor

I'm a spy in the house of love. Sobre a cama: um travesseiro sujo e abandonado. Como fiel escudeira, uma regata também suja para noites de extremo terror; um carregador de celular estirado, sem vida também estava sobre a cama; o edredon formava com o lençol um casal de cobras apaixonadas e imóveis - o ápice do amor envolve estar imóvel em alguns momentos; um boné velho e uma camiseta 100% algodão e 80% utilizável-amanhã.
I know the dream. Sobre a mesa o retrato do que Dona Maria de Lourdes, ali de Mogi Mirim, mãe e avó, que adotou dois gatos (um morreu, o outro vive arranhando os móveis, espertalhão), que planta cheiro-verde no quintal diria ser a mesa de um desses jovens sem futuro. Dois copos sujos, documentos, artigos de informática, chaves, artigos de papelaria, desenhos, O Contrato Social, celular, uma nota de cinco reais, algumas moedas, uma lata de cerveja vazia que veio a se descobrir um ótimo cinzeiro, uma garrafa de 460ml de bebida mista adoçada pasteurizada com 10% de suco natural, uma vela, uma faca e um rolo de papel higiênico. That you're dreamin' on.
I know the words that you love to hear. Maldizer a nós mesmos será o futuro da literatura. Já trilhamos caminhos infundados e outros muito seguros. Como esquecer de todos aqueles cabos de aço que nos prendiam aos mesmos bairros fluminenses? Não nos esqueçamos, eis a proposta. Maldigamos a nós mesmos porque passou perto, lambeu a trave, tirou tinta do canudo. Não foi contra a vontade, a vontade é que anda a procura de Ritalina, Coca-cola e Mentos para se divertir. Não foi de placa porque quem bateu foi um tal de Bocão da série C e não foi Adrianinho Canela de Diamante. Usemos as palavras feias, as ásperas. Usemos o tortuoso não desmerecendo o Belo, o cantor. Façamos piadinhas inofensivas, escrevamos textos ofensivos e, por favor, não nos esqueçamos de comprar mais sabonete líquido para o banheiro!
I know your deepest and secret fear. Comprei uma barraca. Dois lugares. Uma barraca para me acomodar neste novo espírito aventureiro. Dois lugares: um para meu cadáver e outro para minha coleção de sketchbooks incompletos. Já são quatro. Antes da Copa quero ver outro em comemoração à seleção verd'amarela. Dois lugares para que eu possa dormir acompanhado, é claro, onde eu possa sentir na pele o suor da companhia e beijá-la, talvez levá-la a um pé de montanha no Tibete (plateau region in Asia) e lá permanecer imóvel - o ápice do amor envolve estar imóvel em alguns momentos.
I'm a spy in the house of love e esta foi uma neodeclaração de amor.

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